quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Qualidade de vida de pacientes renais crônicos e atividade física. Como podemos auxiliá-los?

Paciente em hemodiálise que praticam atividade física apresentam redução das dores, melhora do humor e da disposição e maior força física.

Quando se trata de pacientes renais crônicos, parece difícil falar em qualidade de vida; principalmente se levarmos em conta que o tratamento de terapia substitutiva (TRS) nas clínicas de diálise requer um mínimo de três sessões por semana, cada uma durando quatro horas. No entanto, qualidade de vida, conforme definição da Organização Mundial de Saúde (OMS), é “a percepção do inpíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Isso nos leva a entender que a qualidade de vida depende da percepção de cada inpíduo, da forma como encara as situações ou circunstâncias ao seu redor.
No início do tratamento, são inúmeras as mudanças que ocorrem no dia a dia do paciente. Leva-se tempo para que ele se adapte à nova realidade. E não são apenas alterações de rotina. Há também restrições alimentares rigorosas, orientadas por profissionais da área de nutrição; sobrecargas emocionais, acompanhadas por psicólogos e quando necessário por psiquiatras e limitações físicas. É justamente nesse último quesito que nós educadores físicos podemos atuar com grande eficiência.
No início do tratamento dialítico, a maioria dos pacientes apresenta vários desconfortos como fadiga muscular aos mínimos esforços, cãibras recorrentes, falta de ar, de energia, perda de apetite, dores de cabeça, tontura e náuseas. E como se não bastasse, muitos padecem de outra transformação, a de sua imagem. Isso se dá quando são surpreendidos pela mudança na coloração e no turgor da pele, surgimento de protuberâncias causadas pelo acesso vascular, cabelos finos e quebradiços, deformidades ósseas e oscilações no peso.
Todo esse quadro, normalmente, gera um ciclo de inatividade. A restrição de suas ações e da mobilidade resulta em maior dependência física e emocional. Esta, por sua vez, compromete ainda mais a capacidade funcional, que tem como conseqüência o aumento da inatividade. Em pouco tempo, temos pacientes sedentários, muito mais propensos a agravar seu quadro clínico e com baixos índices de qualidade de vida. Esse ciclo vicioso, porém, pode ser quebrado. E é justamente aí que a prática regular de atividade física exerce uma influência fundamental.
Em fevereiro de 2008, sob minha coordenação, o trabalho de atividade física com pacientes renais teve início.
Nosso programa de atividade física (AF) contou com a adesão espontânea dos pacientes em hemodiálise.  Consistindo em duas sessões semanais de exercícios resistidos e alongamentos, antes de cada sessão de diálise, monitorados por educadores físicos. Como complementos, utilizamos música, halteres, caneleiras, tiras elásticas e as próprias poltronas em que os pacientes se sentam durante a sessão.  A todo o momento, nosso objetivo é promover um clima de descontração e entrosamento.
Seis meses depois de as aulas terem se iniciado, aplicamos um questionário de satisfação auto-referido, com seis questões de múltipla escolha e uma aberta. As perguntas são relacionadas a dores no corpo, mudanças físicas e psíquicas e objetivo da participação.
Ao longo desses anos, os estudos que realizamos constataram que pacientes há mais tempo em programa de hemodiálise, independentemente da faixa etária, apresentam mais sintomatologia de dor. A maioria dos que participaram das aulas esperava aprimorar sua qualidade de vida. Em grande parte, isso se evidenciou pela redução das dores, melhora do humor e da disposição e maior força física.
Assim como a expectativas dos pacientes no que diz respeito à dor, as nossas também foram superadas, o que tornou ainda mais gratificante a abertura deste campo de atuação para o educador físico.
Para encerrar, quero compartilhar um relato feito por uma de nossas alunas mais féis, em relação à prática de atividade física na clínica de hemodiálise.
“... ANTES QUANDO ENTRAVA NA SALA DE HEMODIÁLISE, PARA MIM AS MÁQUINAS, OS TÉCNICOS DE ENFERMAGEM, TUDO; PARECIAM MONSTROS. AGORA CHEGO MAIS CEDO PARA PARTICIPAR DAS AULAS E SÓ VEJO O CUIDADO VOLTADO PARA MIM, PARA O MEU CORPO. ME SINTO, MELHOR, MAIS BEM DISPOSTA. É UM MOMENTO SÓ MEU.”
Quanto às respostas fisiológicas, às melhoras físicas e emocionais, que se fizeram presente ao longo do programa de exercícios, pretendo abordá-las em uma próxima oportunidade.