sábado, 30 de junho de 2012

EDUCADOR FÍSICO JUNTO À EQUIPE MULTIDISCIPLINAR


            A nossa área de atuação está cada vez mais ampla, estamos conseguindo nos inserir em lugares que sempre foram nossos por direito, mas que eram dados a outros profissionais. Não nos limitamos mais a escolas, academias, clubes, área desportiva e de recreação. Além de sermos profissionais da área da saúde por formação, atualmente fazemos parte de uma equipe multidisciplinar formada por médicos, nutricionistas, enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, assistente social, dentista entre outros.

            É a área de prevenção, profilaxia, tratamento, recuperação e manutenção da saúde através da atividade física e de hábitos saudáveis de vida. Para isso, nós, educadores físicos, temos que estar cada vez mais atualizados para intervir junto aos demais profissionais. Porque ainda somos vistos muitas vezes como recreadores, que trazem a parte lúdica para dentro do ambiente. Não que isso seja ruim, muito pelo contrário é nosso diferencial em relação aos demais profissionais, pois assim conseguimos nos aproximar mais do indivíduo que está conosco, não somente do portador (ou não) de alguma doença ou deficiência, mas do ser humano em sua totalidade.

            O que realmente me incomoda é ser visto somente como um profissional que distraí essa população, que “dá uma relaxada nos pacientes” antes da diálise, ou seja, lá qual a área em que atuamos. Somos profissionais especializados e estamos realizando uma ou outra determinada atividade por motivos específicos que trarão benefícios como: melhoria física, na autoestima e por consequência em sua qualidade de vida.

            Sei que essa visão não é compartilhada por todos, principalmente nos grandes centros de estudos e pesquisas, os educadores físicos são peças fundamentais no desenvolvimento de pesquisas e protocolos de intervenção e tratamento. Mas sempre provando por A+B que somos especializados, que temos competência e conhecimento o suficiente para atuarmos em conjunto com os demais profissionais da área da saúde. Somos os profissionais habilitados e responsáveis em prescrever qual a melhor atividade, intensidade e frequência das atividades físicas que devem ser praticadas.

            Digo isso porque sei o quanto é importante a indicação de um médico, referente a prática ou não de atividade física. É quase como um decreto, se o indivíduo vai ao médico e ele diz que tem que praticar atividade física pelo menos 3 vezes por semana, a grande maioria, na mesma semana se matrícula em uma academia, normalmente em alguma atividade aquática que é a mais recomendada pelos médicos, não sei porque, mas é. Talvez para não correr o risco de errar?!?! Na verdade quem deveria prescrever a melhorar atividade somos nós, os demais profissionais deveriam indicar que nos procurassem para aí sim, definirmos qual o procedimento a partir das indicações de cada indivíduo.

            Vivenciei isso quase todos os dias dentro das clínicas e mesmo entre os familiares e pessoas do convívio comum, pois por mais que haja uma grande divulgação através da mídia referente aos benefícios da prática regular de atividade física, da boa alimentação; a adesão livre e espontânea da mudança de estilo de vida é difícil.  E quando ocorre a promoção normalmente não é feito inicialmente por nós, isso porque nossa intervenção ainda não é o suficiente para influenciar o início. Parece que estamos advogando em causa própria.

            Nas clínicas de hemodiálise vi diversos pacientes sentindo-se amputados de um braço, mesmo o tendo. Porque quando realizam a cirurgia para fístula artério-venosa (FAV), que é utilizada para o acesso vascular durante a hemodiálise, a recomendação mais comum é: “Não façam nada com esse braço, a não ser apertar a bolinha para melhorar a vitalidade da fístula”. Mas na verdade essa não é a melhor recomendação a ser feita. Exercícios de flexão e extensão do cotovelo podem e devem ser feitos com bastante eficiência (após três meses da cirurgia) para melhorar a vitalidade da FAV e todos os demais movimentos de fortalecimento e alongamento, para evitar problemas articulares (como ombro congelado), o que é bastante comum nessa população. O que não é permitido são movimentos que interrompam o fluxo sanguínea local, movimentos de garrote, até mesmo aferição de pressão arterial, isso para não correr o risco de perder o acesso vascular.

            Quero deixar claro que não tenho a intenção de tomar lugar de nenhum profissional na área da saúde, só quero reafirmar e confirmar nosso espaço por direito e competência nessa área.

            Fiquei extremamente feliz ao ler na edição de dezembro/2010 da revista do CONFEF (Conselho Federal e Regionais de Educação Física) a matéria “Educação física - Uma questão de saúde pública”, onde relata a inclusão do educador físico junto a equipe que atua com o trabalho de Saúde da Família. Sei que ainda é o início de uma longa jornada, mas o que realmente importa nesse momento é estarmos presente e comprovando a eficiência de nossa atuação junto a saúde pública e privada.

            Fazemos parte de uma nova geração de educadores físicos, que tem maior oportunidade para atuar em todos as áreas de formação, incluindo a área da saúde, que como vocês já devem ter percebido é a minha paixão.

            Espero ter contribuído de alguma forma para estimular a busca de conhecimentos nessa área e por consequência a atuação profissional, que não é fácil, mas muito satisfatória. Como sempre estou a disposição para troca de informações e sugestões de novos assuntos a serem abordados futuramente.

            Até a próxima!

quarta-feira, 7 de março de 2012

Atividade Física - Uma vacina para a saúde

Antes de falar sobre o tema, quero compartilhar com vocês o que me levou a ele. Ao iniciar a faculdade de educação física minha paixão era a dança. Incentivada por meus pais, que pretendiam ao término de minha formação montar uma academia, iniciei meus estudos.
Mas durante a formação fui descobrindo e conhecendo os benefícios da prática regular da atividade física e como ela atua como um fator de proteção, manutenção, promoção e prevenção da saúde. Então a paixão inicial, que era toda voltada para a dança, transformou-se em um grande amor pelos efeitos benéficos da atividade física.
A cada aula onde descobria as maravilhas que a atividade física proporcionava, mais queria entender e saber como ocorriam. Ao mesmo tempo, não entendia porque não se divulgava mais esses benefícios como método de prevenção de várias doenças, principalmente pela saúde pública, uma vez que milhões de reais poderiam ser economizados em tratamentos, intercorrências, cirurgias e aposentadorias precoces.
Enfim, meu interesse só aumentou e hoje me sinto uma profissional privilegiada, pois um sonho que parecia utópico é realidade.  Eu, Simone Guaraldo, professora de educação física, atuo diretamente na área da saúde com pacientes renais crônicos nas clínicas de diálise dirigidas pela Dra. Carmen Tzanno e pelo Dr. Elzo Ribeiro Junior, que têm uma visão diferenciada e tratam seus pacientes de forma privilegiada, investindo em profissionais, em busca de uma visão global e humanizada.
Nesses últimos três anos, tenho me dedicado ao estudo dessa população. E me sinto na obrigação de compartilhar com mais pessoas o que leva, em sua maioria, uma pessoa se tornar um paciente renal crônico, uma vez que eu mesma tinha pouco conhecimento sobre o assunto.
Dados da literatura indicam que portadores de Hipertensão Arterial, de Diabetes Mellitus, ou histórico familiar de doença renal crônica têm maior probabilidade de desenvolverem insuficiência renal crônica (Jornal Brasileiro de Nefrologia, 2004 vol. XXVI, Romão Jr, J.E).
Histórico familiar talvez seja o fator de maior dificuldade para se controlar, mas através do conhecimento dele podemos nos prevenir com diagnósticos precoces. Quanto a Hipertensão e o Diabetes tipo II são doenças que podem ser prevenidas através de uma boa alimentação, hábitos de vida saudáveis (não fumar, beber com moderação) e a prática regular de atividade física.
Pessoas com diabetes e hipertensão apresentam uma prevalência muito maior de doença renal crônica (DRC) (37% e 26% respectivamente), quando comparadas àquelas sem essas condições (11% e 8% respectivamente). E mundialmente 50% das pessoas com diabetes e hipertensão desconhecem sua condição e não são tratadas (Jornal Brasileiro de Nefrologia 2009, 31 (1), Bakris G.L)
Então, sabendo que a atividade física é um fator de proteção e prevenção para essas doenças, auxiliando no controle glicêmico e da pressão arterial, podemos diminuir as chances de progredirem para pacientes renais crônicos. Mesmo sendo portador de uma doença, a atividade física continua sendo um fator de proteção para a progressão e complicações dessa. Obviamente, sempre são válidas as recomendações e cuidados especiais com essa população.
O que realmente quero chamar a atenção é que assim como essas duas doenças de base, a doença renal crônica tem sintomas bastante silenciosos em seu início, quase imperceptíveis, que podem durante anos lesar a função dos rins, podendo causar a falência dos rins, levando ao tratamento de terapia renal substitutiva, que pode ser feito através de hemodiálise, diálise peritonial, e transplante (que também é um tratamento e não cura). Por isso, a melhor forma de se prevenir é ir ao médico com regularidade, realizar exames necessários (no caso da função renal uma dosagem de creatinina); e manter um estilo de vida saudável, com uma boa alimentação, boas noites de sono e a prática regular de atividade física.
No paciente renal a atividade física vai torná-lo mais resistente a processos inflamatórios, sendo uma das intercorrências mais recorrentes nessa população. Além disso, caso o paciente seja hipertenso, vai auxiliar no controle da pressão arterial; sendo diabético auxilia no controle glicêmico, melhora a condição física e funcional como um todo, diminui a progressão de perda de massa muscular, além de melhoras no humor e na sociabilização.
Mesmo em casos de doenças crônicas a atividade física pode e deve ser utilizada como forma de tratamento não medicamentoso, com cuidados e recomendações especiais a cada população, como é feito pelas Sociedades Brasileiras de Hipertensão e Diabetes.
Nós, educadores físicos, somos agentes e promotores da saúde, portanto devemos ocupar nosso espaço nessa área. Para isso, devemos nos especializar e comprovar que nossas ações são eficientes, e em parceria com uma equipe multiprofissional podemos melhorar o quadro clínico de portadores de doenças crônicas e atuar na prevenção dessas, através de uma VACINA bastante eficiente e com baixo custo: a atividade física.
“Dar o exemplo não é a melhor maneira de influenciar os outros. É a única.” (Albert Schweitzer).

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Qualidade de vida de pacientes renais crônicos e atividade física. Como podemos auxiliá-los?

Paciente em hemodiálise que praticam atividade física apresentam redução das dores, melhora do humor e da disposição e maior força física.

Quando se trata de pacientes renais crônicos, parece difícil falar em qualidade de vida; principalmente se levarmos em conta que o tratamento de terapia substitutiva (TRS) nas clínicas de diálise requer um mínimo de três sessões por semana, cada uma durando quatro horas. No entanto, qualidade de vida, conforme definição da Organização Mundial de Saúde (OMS), é “a percepção do inpíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Isso nos leva a entender que a qualidade de vida depende da percepção de cada inpíduo, da forma como encara as situações ou circunstâncias ao seu redor.
No início do tratamento, são inúmeras as mudanças que ocorrem no dia a dia do paciente. Leva-se tempo para que ele se adapte à nova realidade. E não são apenas alterações de rotina. Há também restrições alimentares rigorosas, orientadas por profissionais da área de nutrição; sobrecargas emocionais, acompanhadas por psicólogos e quando necessário por psiquiatras e limitações físicas. É justamente nesse último quesito que nós educadores físicos podemos atuar com grande eficiência.
No início do tratamento dialítico, a maioria dos pacientes apresenta vários desconfortos como fadiga muscular aos mínimos esforços, cãibras recorrentes, falta de ar, de energia, perda de apetite, dores de cabeça, tontura e náuseas. E como se não bastasse, muitos padecem de outra transformação, a de sua imagem. Isso se dá quando são surpreendidos pela mudança na coloração e no turgor da pele, surgimento de protuberâncias causadas pelo acesso vascular, cabelos finos e quebradiços, deformidades ósseas e oscilações no peso.
Todo esse quadro, normalmente, gera um ciclo de inatividade. A restrição de suas ações e da mobilidade resulta em maior dependência física e emocional. Esta, por sua vez, compromete ainda mais a capacidade funcional, que tem como conseqüência o aumento da inatividade. Em pouco tempo, temos pacientes sedentários, muito mais propensos a agravar seu quadro clínico e com baixos índices de qualidade de vida. Esse ciclo vicioso, porém, pode ser quebrado. E é justamente aí que a prática regular de atividade física exerce uma influência fundamental.
Em fevereiro de 2008, sob minha coordenação, o trabalho de atividade física com pacientes renais teve início.
Nosso programa de atividade física (AF) contou com a adesão espontânea dos pacientes em hemodiálise.  Consistindo em duas sessões semanais de exercícios resistidos e alongamentos, antes de cada sessão de diálise, monitorados por educadores físicos. Como complementos, utilizamos música, halteres, caneleiras, tiras elásticas e as próprias poltronas em que os pacientes se sentam durante a sessão.  A todo o momento, nosso objetivo é promover um clima de descontração e entrosamento.
Seis meses depois de as aulas terem se iniciado, aplicamos um questionário de satisfação auto-referido, com seis questões de múltipla escolha e uma aberta. As perguntas são relacionadas a dores no corpo, mudanças físicas e psíquicas e objetivo da participação.
Ao longo desses anos, os estudos que realizamos constataram que pacientes há mais tempo em programa de hemodiálise, independentemente da faixa etária, apresentam mais sintomatologia de dor. A maioria dos que participaram das aulas esperava aprimorar sua qualidade de vida. Em grande parte, isso se evidenciou pela redução das dores, melhora do humor e da disposição e maior força física.
Assim como a expectativas dos pacientes no que diz respeito à dor, as nossas também foram superadas, o que tornou ainda mais gratificante a abertura deste campo de atuação para o educador físico.
Para encerrar, quero compartilhar um relato feito por uma de nossas alunas mais féis, em relação à prática de atividade física na clínica de hemodiálise.
“... ANTES QUANDO ENTRAVA NA SALA DE HEMODIÁLISE, PARA MIM AS MÁQUINAS, OS TÉCNICOS DE ENFERMAGEM, TUDO; PARECIAM MONSTROS. AGORA CHEGO MAIS CEDO PARA PARTICIPAR DAS AULAS E SÓ VEJO O CUIDADO VOLTADO PARA MIM, PARA O MEU CORPO. ME SINTO, MELHOR, MAIS BEM DISPOSTA. É UM MOMENTO SÓ MEU.”
Quanto às respostas fisiológicas, às melhoras físicas e emocionais, que se fizeram presente ao longo do programa de exercícios, pretendo abordá-las em uma próxima oportunidade.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Exercício Físico - Uma maravilha para a saúde


Olá a todos! Meu nome é Simone, sou educadora física, pós graduada pela Faculdade de Medicina da USP, em fisiologia do exercício e treinamento resistido na saúde, na doença e no envelhecimento.

Trabalhei durante três anos em duas clínicas de hemodiálise em São Paulo, ministrando exercícios físicos para pacientes renais em tratamento de hemodiálise. Atuei junto ao Hospital das Clínicas como professora voluntária na disciplina de Geriatria ministrando aulas aos funcionários do hospital.

Atualmente sou professora do SESI Osasco, atendo como personal trainner e personal trainner home care (atendimento domiciliar) com exercícios terapêuticos.

E a partir de agora poderemos nos comunicar através desse blog. Onde compartilharei novidades, curiosidades e informações relevantes sobre exercício físico regular e como ele atua como um fator de proteção, manutenção, promoção de saúde, prevenção e tratamento de doenças.

Mesmo em casos de doenças crônicas já instaladas a atividade física pode e deve ser utilizada como forma de tratamento não medicamentoso, com cuidados e recomendações especiais a cada população. Como é recomendado pelas Sociedades Brasileiras de Hipertensão e Diabetes.

Minha maior paixão está na ação transformadora que a prática regular de exercícios físicos promove na saúde. Por isso, vou compartilhar com vocês assuntos voltados a essa área.

Espero contar com a participação e colaboração de vocês! Estou aberta a sugestões de temas.

Até a próxima!

Dar o exemplo não é a melhor maneira de influenciar os outros. É a única.” (Albert Schweitzer).